Como prometido, disse que ia voltar aqui pra falar sobre minhas reflexões musicais.
Convivo com música já há quase 20 anos. Logo, convivo também com as pessoas que as executam e interpretam das mais diversas formas possíveis.
Todo o músico tem uma meta de performance. Quando se começa a estudar uma peça, algumas coisas saem com maior facilidade do que outras, variando de pessoa pra pessoa. O que se expressa nesse esqueleto inicial é o assunto desse post.
Voltando para as metas, todo o mundo quer tocar seu instrumento de forma mais correta e expressiva possível. Ambos os aspectos são importantes, pois sem expressão a música seria desinteressante, e sem as notas é impossível passar o que o compositor quis dizer.
Minhas observações me revelaram que a música que a pessoa executa nesse esqueleto inicial geralmente reflete a maneira como ela enxerga o mundo e guia sua vida dentro dele.
Todo o mundo tem sentimentos. Mas quanto mais intensa é a vida dessa pessoa, mais expressiva ela consegue ser sem muito esforço. Se a pessoa leva uma vida morna, água com açúcar, ela vai ter de lutar pra colocar expressividade em sua manifestação. A pessoa que experiencia os sentimentos com maior intensidade já esta familiarizada com isso no seu dia-a-dia. Quem leva uma vida sem muitos altos e baixos emocionais não está acostumado com esse tipo de sensação.
Penso isso porque quando se cria ou se executa alguma manifestação sonora (pensando melhor, isso se estende também para as outras artes, mas vou ficar na minha mesmo por hora), ela leva a identidade desse executante/criador. Nenhuma manifestação artística genuína é idônea ou neutra. Isso porque envolve seres humanos, feitos de carne, osso, hormônios em constante ciclos de êxtase e relaxamento.
Não confundam essa intensidade com abertura ou atiramento. O que falo é da real intensidade do sentimento. Conheço pessoas tímidas e introspectivas super expressivas em seu instrumento porque conseguem transmitir através de sua interpretação todas as fortes sensações que esta sente em seu âmago interior. E o contrário também é verdadeiro. Há casos de pessoas sociabilissimas, cheias de amigos, faladeiras e comunicativas, cuja música é tão vazia quanto uma bolinha de pingue-pongue.
Me lembrei de uma master-class que fiz há alguns anos atrás. Havia um mocinho tocando uma peça de Brahms muito bem. Todas as notas ali no lugar. O rapazinho tinha uns 12 anos na época e sua mãe o estava acompanhando na aula. A professora perguntou a ela a idade do menino e ela respondeu. A reação da professora foi dizer “Eu vou fazer o que eu puder aqui, mas enquanto ele não ser apaixonar e tiver uma dor no coração, vai ser impossível pra ele entender o que eu estou dizendo.” Isso diz muito do que eu estou falando.
Para os que tem facilidade com a expressividade, que bom! Ainda que sem todas as notas, vocês vão ser sempre interessantes. Para os que não a tem, sempre tentar conectar o interior pessoal a interface musical, seja ela um piano, um violão, uma flauta ou uma caneta.
Tudo de bom!
terça-feira, 15 de setembro de 2009
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Um comentário:
Concordo em genero, numero e grau! E viva a expressividade! ;)
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